terça-feira, junho 20, 2006

A VIDA NUM ARRASTAR DE PASSOS

Breve e, em simultâneo, prolongado, aquele arrastar de passos reproduziu-se ao infinito. Naqueles passos, e só naqueles, a vida era a música e os pés os bailarinos. Naquela dança, a vida soltava-se a cada passada. Abraçava-nos e largava-nos com a mesma indiferença com que o tempo nos agride os sentidos desde o momento em que, pela primeira vez, gritamos, choramos, perguntamos, nessa linguagem da inocência, porquê? Porque é que estamos aqui?

Uma e outra vez, num movimento reduzido à insignificância pela inconsciência da repetição, a vida se soltava, num abraço de loucura, numa carícia de despedida. Morremos, morre-se, a cada abraço, a cada carícia, e não damos conta. Caminhamos sem destino, enquanto, cegos por uma cortina de ilusão, o nosso bailado continua. Rodopiamos com a vida e com a morte, com o princípio e o fim, numa valsa a três. Numa valsa cuja partitura se escreve a cada momento, a cada passo. Agarrados, entrelaçados, beijamo-nos, voamos, somos loucos embriagados. Somos tudo, somos nada. E ela, a vida, continua o seu vaivém a cada passo.

Por vezes ouvimo-la no seu lamento profundo, ouvimo-la chamar por nós. Mas os passos, os nossos, são arrastados, dolorosamente arrastados. Talvez acreditemos que o seguinte será menos mau que o que acabámos de dar. Cheios de acreditar, cansados do choro que irrompeu das nossas gargantas assim que nos sentimos vivos pela primeira vez e que nos acompanha a travessia. Cansados do grito que nos ecoa cá dentro, neste vazio dos sentidos. Nesta terra de ninguém, soluçamos sem dar conta e choramos lágrimas que não secamos…

2 comentários:

Anónimo disse...

A minha convicção era correcta,Você não engana ninguem;é um ROMÂNTICO.
Fica bem!!!
Yura

Anónimo disse...

ficou bonito