quarta-feira, julho 12, 2006

INCHAÇOS

Hoje deixei a terra. Hoje parti até aos confins do absoluto. Para trás ficaram o espaço e o tempo, assim como os entendo.

Parti sem ir. Demorei tempo nenhum. Não havia correspondência entre o espaço onde estava e aquele onde me sentia. Não era possível determinar o tempo que decorreu entre o momento em que parti e aquele em que voltei. Apenas porque não fui, nem vim. Mas também não fiquei.

Deitado no leito que por ora me aceita, de costas viradas para o mundo, cresço. Sinto-me crescer. O meu corpo afasta-se sem se mover. Tudo o que não sou eu se torna pequeno. Cada vez mais pequeno. Será isso? Será que é o não eu que se está a tornar cada vez mais pequeno e não eu que estou a crescer? Sinto-me estranho, gostava, agora, de ser capaz de restabelecer a normalidade das proporções. Mas não. A uma velocidade que não se mede, invado um espaço que não existe. A perspectiva altera-se. O não eu desaparece à medida que o eu aumenta de tamanho. Perdi o controlo da situação…

Sinto-me sem dimensões. Sou, neste momento, tão grande como o tudo, e, em simultâneo, não existo, como o nada. Estranho, sinto-me mal. Não quero não ser…

terça-feira, junho 20, 2006

A VIDA NUM ARRASTAR DE PASSOS

Breve e, em simultâneo, prolongado, aquele arrastar de passos reproduziu-se ao infinito. Naqueles passos, e só naqueles, a vida era a música e os pés os bailarinos. Naquela dança, a vida soltava-se a cada passada. Abraçava-nos e largava-nos com a mesma indiferença com que o tempo nos agride os sentidos desde o momento em que, pela primeira vez, gritamos, choramos, perguntamos, nessa linguagem da inocência, porquê? Porque é que estamos aqui?

Uma e outra vez, num movimento reduzido à insignificância pela inconsciência da repetição, a vida se soltava, num abraço de loucura, numa carícia de despedida. Morremos, morre-se, a cada abraço, a cada carícia, e não damos conta. Caminhamos sem destino, enquanto, cegos por uma cortina de ilusão, o nosso bailado continua. Rodopiamos com a vida e com a morte, com o princípio e o fim, numa valsa a três. Numa valsa cuja partitura se escreve a cada momento, a cada passo. Agarrados, entrelaçados, beijamo-nos, voamos, somos loucos embriagados. Somos tudo, somos nada. E ela, a vida, continua o seu vaivém a cada passo.

Por vezes ouvimo-la no seu lamento profundo, ouvimo-la chamar por nós. Mas os passos, os nossos, são arrastados, dolorosamente arrastados. Talvez acreditemos que o seguinte será menos mau que o que acabámos de dar. Cheios de acreditar, cansados do choro que irrompeu das nossas gargantas assim que nos sentimos vivos pela primeira vez e que nos acompanha a travessia. Cansados do grito que nos ecoa cá dentro, neste vazio dos sentidos. Nesta terra de ninguém, soluçamos sem dar conta e choramos lágrimas que não secamos…

sexta-feira, março 31, 2006

OLHA EU AQUI....



Olha eu aqui...é que só pode!!! Nós, seres humanos, temos a faculdade de podermos, com o discurso, escamotear a verdade do pensamento. Por vezes não o fazemos...e então...e então resta-nos assumir um papel como o gajo da foto. O pior é que corremos o risco de, não tendo verbalizado o contrário do que pensamos, continuarmos a ser mal interpretados.Sou sincero, já não sei se se trata de alguma lacuna discursiva, se, por outro lado, se trata de um condicionamento interpretativo, provocado pela vontade de quem a faz (a interpretação). Mesmo que de forma não assumida...
Há, de facto, coisas muito mais graves...
Beijinhos...

segunda-feira, março 13, 2006

HÁ DIAS FODIDOS



Existe...

Só questiono a opção pelo contrário daquilo que queremos, por fazermos um percurso inverso ao da nossa vontade.

Até quando?

Até quando suportaremos a inversão do desejo?