domingo, outubro 09, 2005

POIS É

Hoje venho-vos fazer uma revelação. No fundo nada que voces não estivessem já à espera. Pois é, é verdade, também eu fui um candidato autárquico, eu e mais alguns, acho que totalizávamos quatrocentos mil. Em relação a este número podem-se fazer várias análises, aliás todas as que a imagi(NAÇÃO) nos permitir, mas, parece-me a mim, existem duas leituras possíveis que sobressaem relativamente a todas as outras, a saber: 1ª O nosso país funciona, a nossa democracia está viva, a nossa ânsia de afirmação cíviva é tal que praticamente nos impele a sermos candidatos a qualquer coisa, apenas com o fito altruísta de darmos o nosso contributo para o bem estar de todos; 2ª Afinal não, o que nós queremos mesmo é um tacho. A gente até já viu que isto (o país) não funciona, então vamo-nos lá a candidatar a ver se arranjamos um tacho e o resto da malta que se lixe. Devo-vos também dizer que, no que concerne a estes dois últimos pontos de vista, sabem como é..., a doutrina divide-se...
Bom, chega de trigeversações e vamos mas é ao que interessa. Como já referi acima, também eu fui candidato autárquico e, devo assumi-lo, fui motivado apenas pela minha crença no estado de direito, no espírito republicano da coisa, na democracia, enfim, por acreditar que (no fundo, e mais fundo do que isto não me parece possível) isto funciona. Acredito também que, com a minha participação, e eleição, a vida de todos (cá em casa) pode melhorar. Assim, e para os que não tiveram a oportunidade de estar presentes, vou-vos transcrever aqui o discurso que fiz aquando da minha apresentação de candidatura.
A praça estava repeleta de gente que tinha chegado de autocarro vinda de todos os pontos do concelho. No ar pairava um cheiro adocicado a febras assadas e a couratos que eu tinha mandado distribuir pela populaça, juntamente com bandeirinhas e autocolantes com as minhas trombas estampadas. Antes de fazer a minha entrada apoteótica, as luzes apagaram-se e, dos megofones, começou a ecoar o meu hino de campanha, o "Malhão Malhão". Foi o entusiasmo generalizado. As pessoas berravam o meu nome a plenos pulmões, enquanto lhe saltavam da boca pedaços mal deglutidos de febra e courato:
- Hall, Hall, Hall!!!!!
Eu próprio quase chorei quando a minha claque de apoio que tinha vindo do lar da Santa Casa da Miséria das Brotas começou, inesperadamente, a cantar:
-Ninguém pára o Hall, Ninguém pára o Hall, Ninguém pára o Hall!!!!
Foi comovente.
Entrei então em cena, todos se levantaram e começaram a agitar, em simultâneo, os dois punhos no ar, a cabeça, enquanto saltavam e abriam e fechavam as pernas tipo polichinelo. Inesquecível. Esta cena durou quase três quartos de hora, até que eu, lindo na minha camisa de alças perfurada e já do púlpito, levantei o braço a pedir silêncio. Foi então que disse:
-Boa Noite!!!
Deviam ter visto. O mar de bandeiras. Os aplausos. A alegria. As luzes das ambulâncias que entretanto tinham chegado para levar aqueles que tinham partido o pescoço ao saudar a minha chegada. Fantástico.
- Colectivo, Colectivo, Colectivo, Colectivo!!!!
Pronto, já os tinha conquistado. A partir de agora a noite era minha. Foi quando tive a certeza que a vitória já não me escaparia. Comecei então o discurso propiamente dito.
- Povo de (nome da terrinha), eu sei que vocês sabem que eu sei que vocês sabem que eu não minto e raramento vos engano, assim, assumo, eu já passei cheques carecas. Melhor, eu já fui passar férias nas Caraíbas com o dinheiro que recolhi num peditório que fiz para ajudar as criancinhas que não têm perninhas e bracinhos e que foram abandonadas.
As pessoas choravam, aplaudiam e gritavam:
-Hall, Hall, Hall!!!!!
Disse-lhes então:
-Mais, eu já desviei fundos públicos destinados à distribuição de alimentos pelas familias mais desfavorecidas; já recebi subornos de empreiteiros para permitir a construção de centros comerciais onde estava previsto construir hospitais e jardins de infância; já subornei árbitros de futebol e de damas. Aliás, a minha vizinha tem um irmão que tem um sobrinho que tem quatro contas na Suiça, duas no Luxemburgo, uma na Madeira e três nas ilhas Cayman.
Foi a comoção generalizada, os aplausos ouviam-se a quilómetros de distância.
Continuei:
-E, já que estamos em maré de sinceridade, eu, quando era mais novo, violei o meu avô, matei a minha avó e arranquei os olhos a uma prima deficiente com o alicate de mexer as brazas.
- Vitória, Vitória, Vitória, Vitória.
Ouvia-se entre as Hostes.
Era altura de atacar o meu opositor.
-Eu não sou como o sr(nome do candidato do outro blogue), que é um homem honesto e justo!!!
Neste momento, e apenas por ouvir o nome do meu opositor, começou um côro de assobios enssurdecedor. Enquanto alguns até o vilipendiavam, e ameaçavam matá-lo quando o vissem na rua.
Aproveitei então para enaltecer algumas das minhas características mais queridas pelo povo.
- Dizia eu, ao contrário desse sr., eu sou um LADRÃO, um CORRUPTO, um ASSASSINO, um VIOLADOR, enfim, um autêntico FACÍNORA!!!!
Por esta altura já o povo rejubilava de gáudio. Os desmaios sucediam-se.
- Já Ganhou, Já Ganhou, Já Ganhou, Já Ganhou!!!!
Então, para finalizar o comício, estalou um enorme fogo de artifício que tinha sobrado da festa de passagem de ano, e que não se tinha realizado sobre o pretexto de que as contas públicas não permitiam gastos desta natureza. Ao mesmo tempo, helicópteros, alugados com verbas do fundo de apoio ao combate de fogos florestais, sobrevoavam a praça e largavam, sobre a multidão em delírio, caramelos, chocolates, bandeirinhas, caixas de contraceptivos (estão aqui incluidas deslocações pagas a clinícas privadas em Badajoz, para quando já for tarde para o contraceptivo)frigoríficos, maquinas de lavar louça e roupa, berbequins, embalagens de W.C. Pato Fresh, ucranianas, brasileiras e até algumas paquistanesas, para os mais desesperados.
Pois é.... Ah, pois é, já ganhei...ganhámos todos

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
EM ROID HALL disse...

Já fiz isso, agora esperemos que funcione. Irra que já ando farto destes gajos. Obrigado. Tá bonito isto, tá...

Abraços fraternais camarada bandido.